quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Robin Williams, Fausto Fanti e a crença de que temos tudo

Bom....lá vou eu, quase dois anos após minha última postagem...uma blogueira que não "bloga". Essa talvez seria minha definição. E eu respondo...tô nem aí....escrevo quando algo me conduz internamente para isso e essa semana isso ocorreu, por diversos assuntos, mas escolho esse para retomar minhas reflexões. Escolho a morte do ator Robin Williams e do comediante Fausto Fanti, ambos homens brilhantes e suicidas. Ambos homens que sofreram de uma doença grave, mas que, não é ainda vista dessa forma pela sociedade como um todo. É a eterna doença de quem não tem o que fazer, a doença de quem precisa de trabalho pra se curar, a doença inexplicável de quem tem tudo e não dá valor a nada, a eterna síndrome de quem não tem um tanque de roupa para lavar....enfim....a única doença grave do mundo totalmente banalizada. E eu não consigo entender isso....Talvez eu não consiga entender porque já sofri com ela e digo verdadeiramente que que ninguém que nunca tenha passado por ela conseguirá entender o quanto ela é devastadora.
Eu lhe pergunto: se seu pai tiver câncer de próstata, doença grave que pode levar a morte, o que você irá fazer? Dizer para ela que deve trabalhar mais, ocupar a cabeça, parar de pensar bobagem, olhar para tudo que tem, agradecer e pronto...ele estará curado! Ou você procurará uma bom oncologista, iniciará todos os tratamentos possíveis e, assim lutará pela sua vida com qualidade? Para alguém com câncer você indicaria trabalhar mais para ocupar a cabeça e tirar as bobagens dela? Para um diabético você negaria a insulina e indicaria um tanque de roupa para lavar? Para um hipertenso grave, vc esperaria um colapso cardíaco enquanto mostra a ele tudo que ele tem e deve ser agradecido, ou procuraria um bom cardiologista e iniciaria um tratamento adequado para que o colapso cardíaco fosse evitado?
Pois bem. Com a depressão é a mesma coisa, idêntico! É uma doença GRAVE que sem tratamento adequado leva a MORTE. Simples assim. Como o câncer. Como a hipertensão e como uma crise hiperglicêmica. E como doença grave, possui tratamento adequado e acompanhamento eficiente que promove qualidade de vida e melhora considerável.
Assim foi comigo. Assim poderia ter sido com estes brilhantes homens que nos deixaram esta semana. Estes nós conhecemos né? Mas e todos os que estão por aí, familiares, amigos, colegas de trabalho? Talvez sofrendo em silêncio por que você, um total ignorante no assunto, não consegue aprender e compreender que, se você não entende de algo, melhor ficar calado. Acredite, dizer que temos tudo e que nosso sofrimento não é válido não ajuda em nada. Dizer que temos tudo e que precisamos valorizar mais o que temos não irá equilibrar meus neurotransmissores para que eu possa enxergar alguma luz no fim do túnel (ou do buraco) em que me encontro. Dizer que o que me falta é trabalho não conseguirá me trazer de volta a coragem e a vontade de viver que me faltam quando em depressão.
Já fazem 4 anos que eu me trato. Já fazem 4 anos da última vez. Já fazem 4 anos que eu luto, sem ter mais vergonha e sem me esconder, controlando uma doença que, por ser crônica, precisa cuidados contínuos. Foi difícil. É difícil. Todos estamos sempre atentos, assim como um hipertenso que precisa sempre ficar de olho em sua pressão ou um diabético que precisar controlar sua glicose. Eu sempre estou ligada no que me incomoda e, por meio da doença, me descubro incrivelmente a todo dia. Estou estável, assim como Robin, o eterno Patch Adamns, poderia estar. Se não tivesse que se esconder e sofrer em silêncio.
Mais uma vez eu faço o pedido: olhem mais nos olhos de quem vive com você. Olhem profundamente. Estudem. Compreendam.  Leiam. Informem-se. Parem de julgar, parem de achar que sabem das coisas, isso também é uma doença grave: a ignorância e, com certeza, pode levar a morte, tanto física quanto espiritual.
Deixo aqui uma informação: A OMS contabiliza cerca de 350 milhões de pessoas que sofrem depressão em todo mundo e afirma que 90% dos suicídios poderiam ser evitados com cuidado adequado (http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs369/en/).
Pois bem, com certeza tem alguém do seu lado sofrendo...e você acabou de dizer a ela que ela tem tudo que precisa e que possivelmente está com a cabeça muito vazia e precisando trabalhar mais. Pois bem, você acabou de influenciar um suicídio...E eu não estou sendo severa demais, estou apenas sendo verdadeira.
Fica a dica, ok?